Tecnologia pode transformar professor em designer
digital, dizem especialistas
Educadores entrevistados pelo R7 no mês do professor destacam mudanças
na profissão
Professores tendem a se transformar em profissionais que pensam como, porque e quando determinados conhecimentos devem ser transmitidos aos alunos pelos meios digitaisReprodução/Flickr/zhao
A tecnologia está mudando
a forma como crianças e jovens
querem aprender e obter informações e, claro, as metodologias de ensino
usadas nas escolas.
Especialistas
que tratam do tema disseram aoR7 que docentes tendem a mudar a forma
como dão aula até se transformarem em designers educacionais, ou seja,
profissionais que pensam como, porque e quando determinados conhecimentos devem
ser transmitidos aos alunos pelos meios digitais.
É o que defende Ronaldo
Mota, ex-secretário de educação superior e do MEC (Ministério da Educação) e
atual reitor da Universidade Estácio.
No livro Education for
Innovation and Independent Learning (Educação para a inovação e para o
aprendizado independente, em tradução livre), desenvolvido no Instituto de
Educação da Universidade de Londres, ele explica que os docentes terão que
quebrar as barreiras do ensino tradicional para se adaptar às mudanças vividas
pela sociedade.
— É preciso ensinar aos
atuais alunos como aprender a aprender pelos meios disponíveis. As interfaces
tecnológicas que ajudam os alunos nesse processo devem ser complementares ao
professor na sala de aula. Os professores terão que quebrar as barreiras do ensino
tradicional.
Não há mágica
Bernadete Gatti,
pesquisadora da Fundação Carlos Chagas, reconhece a tendência de os docentes se
tornarem designers educacionais. Porém, ela faz considerações sobre esse
processo.
— Não será a lousa digital
que vai resolver as questões da aprendizagem. É preciso formação para que
professores usem este e outras tecnologias, que são muito atrativas para os
jovens.
Para a pesquisadora, ainda
existe uma lacuna na formação dos docentes em relação a essas questões.
— Nós não temos
reformulado a formação de professores, de maneira geral. Há mais de um século
repetimos os mesmos esquemas de formação. Dentro disso, ainda não existem
propostas de mudanças curriculares significativas que preveem a incorporação
dessas tecnologias no contexto educacional.
Barrados e conectados
Segundo dados do estudo
TIC Educação, sobre recursos educacionais abertos, que foi realizado em 2013
pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, 96% dos professores de educação
básica no País utilizam esses conteúdos para elaborar aulas e ajudar nos
estudos.
A pesquisa apontou também
que 88% dos docentes fazem adaptações nos conteúdos abertos disponíveis. Porém,
apenas 21% dos entrevistados disseram que publicam seus materiais na web.
Especialistas e professores que lidam
— ou tentam lidar — com as
tecnologias no cotidiano reconhecem que este cenário mostra a necessidade de
formação para melhor utilizar e produzir conteúdos digitais. Também é preciso
tratar das restrições a materiais pulicados na internet que docentes não
podem usar nas salas de aula.
Os resultados da pesquisa
Recursos educacionais abertos no Brasil: o campo, os recursos e sua apropriação
em sala de aula, realizada pela Ação Educativa em parceria com a Wikimedia
Foundation, mostram que apenas 10% dos sites educacionais colaborativos
voltados para a docência no Brasil têm direitos autorais livres. Foram
levantados e analisados mais de 230 portais desse tipo no País.
Jamile Venturini,
coordenadora da pesquisa realizada pela Ação Educativa, explica que os dados
mostraram que a maioria dos 231 recursos analisados não é restrita, mas, na
prática, o uso permitido é limitado e fica aquém das necessidades dos
professores.
— De que serve um vídeo
incrível sobre o tema da minha aula se eu posso vê-lo, mas não exibi-lo para
meus alunos? Ou postá-lo no blog da minha disciplina? Ou colocar legendas para
torná-lo mais acessível?
Segundo Jamile, ainda
existem muitos desafios para o avanço do uso das tecnologias e dos Recursos
Educacionais Abertos no ambiente escolar pelos docentes.
— Há uma questão de
infraestrutura que, muitas vezes, inviabiliza a democratização do acesso a
essas tecnologias na escola. E isso passa não só pelo acesso aos equipamentos,
mas também a uma conexão à internet de qualidade.
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